A senhora, o patinho e o gatinho

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Era mais ou menos 17:40 de uma terça feira, véspera da véspera do feriado e lá eu ia rumo a minha cidadezinha passar o feriado.
Entro no metrô, faço baldeação, entro no outro. Meio apertada, porque minha mochila dobrava meu diâmetro, tinha que ter cuidado. Sem lugares pra sentar, estavamos eu e uma mulher de frente pra porta que entramos e, encostada nesta, uma outra moça, um rapaz e uma senhora, que estava bem na minha frente.
A senhora vestia uma regata larga vermelha, saia preta de bolinhas brancas até o joelho, sapato preto, unhas vermelhas descascadas, coque na cabeça e uma bolsa bege com um patinho e um gatinho de pelúcia um pouco maiores que meu dedão, pendurados como chaveiro na bolsa. Eram bonitinhos.
Então a senhora pega os bichinhos, os coloca em cima do zíper da bolsa, virados de cabeça pra baixo. Logo depois, do nada, ela olha pra mim e diz:
– Sabe que outro dia não me deixaram entrar no metrô por causa deles? (apontando pros bicinhos) .
Eu, como adoro uma conversa, e justamente porque não tinha entendido o porquê daquele comentário e nem a razão do que ela disse, perguntei:
– Verdade? Mas por quê?
– Porque me disseram que eu não podia entrar com animais aqui no metrô, acredita?
(eu começei a rir, claro) – Mas agora não tem mais problema porque eles não vão mais fazer barulho, eu coloquei eles pra dormir hehe.
Ela falava sério, e de começo eu e todos que eu citei aqui riram disfarçadamente. Então eu continuei a conversa:
– Tá certo, não pode deixa-los acordados no metrô. Mas verdade mesmo que não te deixaram entrar por causa deles? Que judiação. Eles não fariam mal a ninguém!
– Pois é, menina. Eu nem acreitei quando o moço falou, mas depois ele falou tão sério que eu fiquei até com medo. Mas eu não ia deixar os bichinhos aqui e ir embora sem eles, né, moça..
– Com certeza.. Fez bem a senhora..
A mulher ao meu lado ria mais a cada vez que eu dava espaço e continuação a essa história maluca. Depois dessa conversa principal, a senhora disse mais umas duas vezes que agora estaria tudo bem, que eles não fariam mais barulho porque ela já os colocou pra dormir..

Depois de sair do metrô, ela foi pra um lado e eu pra outro. E eu fiquei pensando o que levaria a mulher a falar aquilo pra mim e porque ela o falaria. Pode ser um tanto de loucura (no sentido que todos usam, porque eu não acredito em loucura), algum distúrbio mental, apesar de não ser visível, ou vontade de não falar coisa com coisa, ou vontade de fazer os outros rirem, ou outras milhões de possibilidades.
A verdade é que nesse mundo nunca se sabe nada sobre ninguém, nenhuma aparência é verdadeira, todas enganam. Nem nós mesmos nos conhecemos a fundo, como o faríamos com os outros? Por isso tenho paixão por humanos, seus pensamentos e atitudes. Eles são imprevisíveis até nos seus instintos, têm mais coisas ocultas que a Terra, têm mais pensamentos pecaminosos que um coroinha de igreja, mas ao mesmo tempo têm pensamentos puros, tem sorriso, tem sentimentos e sensações boas.

Viva os humanos!

E, claro, essa faz parte de mais uma das minhas aventuras nos transportes coletivos de São Paulo..

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